sexta-feira, 14 de maio de 2010

Selo Povo põe o pé na estrada


A cidade de Campinas (SP) recebe nessa quarta-feira, 14 de abril, às 20 horas, no Sesc local (R. Dom José, 270 - Bonfim) a segunda parada da turnê do Selo Povo. "Selo feito para livros de bolso, livros esses escritos por e para mãos operárias, rebeldes, marginais, periféricas", descreve Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, sobre a coleção que publica livros ao preço de uma cerveja e meia: 5 reais para o público final e 4 reais para quem se interessar pelo trabalho de distribuição.

A ideia do Selo Povo surgiu em 2009 durante um sarau e é simples, básica: "vender ótima literatura, principalmente do gueto, para o gueto e com um preço bem diferente, bem justo". Tudo é feito como em qualquer editora, com a excessão da partilha das vendas. A editora e o distribuidor ficam com menos. Dá para cobrir os custos? "Bate ali no teto, mas o prazer de ver o cara podendo comprar dá um lucro enorme", responde Ferréz, que lembra também do apoio da Ação Educativa para garantir o projeto.

Para quem se pergunta o que é essa literatura do gueto, trata-se da literatura feita nas imensas periferias das cidades brasileiras, por indivíduos imersos nessa realidade, que resolveram produzir seus próprios versos e prosa. Para Ferréz a principal característica dessa literatura dita marginal é ser contundente, mas ele evita entrar nessa dicotomia centro-periferia. "Já passamos dessa coisa de ser da 'periferia', agora as pessoas olham os autores, os textos".

Localizada no número 40 da Galaria do Rock, centro de São Paulo, a loja 1daSul - da marca homônima de roupas e acessórios confeccionados no Capão Redondo, bairro da Zona Sul da capital paulista onde Ferréz cresceu e ainda mora - é um dos oito pontos de venda onde já podem ser encontrados os dois primeiros títulos do Selo Povo: Cronista de um tempo ruim, coletânea de textos escritos por Ferréz e publicados na Caros Amigos, Folha de São Paulo, Le Monde Diplomatique Brasil, Trip e Relatório da ONU; e Amazônia em chamas, primeiro livro de Cátia Cernov, escritora de Rondônia ligada a questões ambientais. Serão lançados pelo menos mais quatro obras até agosto de 2010.

Ferréz espera que com o Selo Povo não haja mais desculpa para não se comprar um livro. Uma imagem recorrente nas suas declarações é a literatura mantida como um vinho caro, guardado na adega, acessível a poucos endinheirados, quando se fala no preço de um exemplar em relação ao rendimento médio do brasileiro. O Selo Povo é a tentativa de vender a produção dessa literatura marginal a preço de cesta básica.

Com mais oito datas previstas, Ferréz e o Selo Povo segue em turnê de lançamento. A próxima parada será no Sarau do Brasa, em Vila Brasilândia (Rua Prof. Viveiros Raposo, 534).

>Leia mais sobre a 1daSul em artigo da Carta Capital de 9 de abril.

>Veja aqui a entrevista concedida por Ferréz por ocasião do Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, evento ocorrido em junho de 2009 no Itaú Cultural.

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