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O universo que habitamos é a própria linguagem. Quanto mais belo for o uso da palavra, mais encantado e amplo será o mundo. É nossa responsabilidade responder com beleza às crianças, contando histórias, fabulando, inventando hipóteses, propondo questionamentos lúdicos...
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Para refletir:
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Aos três anos de idade, uma criança de família de baixa renda ouviu 30 milhões de palavras a menos que uma criança de uma família mais favorecida.
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Como podemos contribuir para a reversão desse quadro nas comunidades em que atuamos? Eis um ponto que merecerá destaque no nosso texto coletivo...
Um belíssimo exemplo de Manoel de Barros:
ResponderExcluirA MENINA QUE GANHOU UM RIO
Minha mãe me deu um rio.
Era dia do meu aniversário e ela não sabia o que me presentear.
Fazia tempo que o mascate não passava naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria alguma rapadura
ou bolachinhas para me presentear.
Mas, como não passava o mascate, minha mãe me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás da nossa casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate.
Meu irmão ficou sentido porque ele gostava do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão ela iria dar uma
árvore para ele.
Uma árvore que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera para meu irmão.
E achei legal.
Os pássaros ficariam durante o dia nas margens do meu rio.
e à noite eles iriam dormir na árvore do meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: minha árvore
dava flores lindas em setembro
e o seu rio nunca dá flores.
Mas eu gozava que a árvore dele não dava peixes.
E na verdade o que nos unia de verdade eram
os banhos no rio nus entre pássaros!
Nesse ponto a nossa vida era um afago.
Trabalho numa creche e a necessidade de encantamento nesse dias tão ligeiros é imensa. Estimular a leitura é quase coisa pra doido nesse nosso mundo frenetico agora até crianças tem a agenda cheia! Como então sentar, ler, sonhar, imaginar, construir imagens com as dicas dos autores que depois que acabam de escrever a hiatória não tem mais controle sobre as palavras que vão povoar nossos sonhos. Agora façam um exercicio leiam e depois imaginem ser uma das personagens, coragem vai ser divertido e tão magico quanto ganhar um rio:
ResponderExcluir-Boa noite, senhora!
A gota d'água riu.
-Não é noite, não, menininha, é dia!
-Como podia saber, se aqui sempre é tão escuro?...
A chuva riu.
A semente peguntou, amedrontada:
-Como é que a senhora sabe de tudo?
-Ora meu bem eu sou uma velha chuva, cansada deser chuva.
...
-Que é isso, meu bem? Você esta tremendo toda!
-Ah! Dona Chuva, estou com tanto medo de nascer...
-Bobagem... Vamos, eu ajudo!
Sua angustia renasceu e sua voa saiu trêmula...
-Mas eu não sei por onde nascer...
-Deve ser aqui. A casca está bem fininha; vou amolecer mais e você fará também um esforço...
Não disse mais nada foi contendo a respiração. Mais e mais. E ainda mais. Sentia que ia estourar. Devia estar quase roxa de a disse tanto esforço. Alguma coisa lhe abalava por dentro; deviam ser os bracinhos de folha.
A chuva disse novamente:
-Tente outra vez:
-Ai! Que dor! ... Ui" Que frio!...
-É assim mesmo. Agora o outro bracinho.
O contato de seu corpinho fraco, miudinho, com a terra úmida enchia-lhe a vida de um novo encanto.
A chuva bocejou:
-Viu, minha filha? Não é tão dificil nascer.
-Mas dói um pouco...
-Se não doesse a vida não teria preço. Agora trate de caminhar.
A chuva reclino-se para um lado e antes de dormir de todo ainda falou com ternura:
-Você vai achar a vida linda... sempre depois que chove.
-obrigada, Dona Chuva...
Rosinha, Minha Canoa. José Mauro de Vasconcelos
É preciso dar as crianças um rio, uma chuva, uma arvore, uma canção, uma poesia, uma emoção. Então serão melhor que podemos ser e a vida da gente será como a gente quiser que seja.
Paz e Bem!
Pollyanna Alves