Via Blog do Galeno
O Povo - 13/04/2010 - Fortaleza
Para muitos autores, foi na infância e na adolescência que surgiu o amor pelos livros. Nessa época, somos mais abertos ao novo e, portanto, estamos propícios ao apego. E quando nos entregamos ao gosto pela leitura, o hábito não desaparece. É livro no quarto, na sala, na estante, na cozinha, no banheiro. É aquela leitura descompromissada no ônibus, clandestina na sala de aula ou no trabalho, iluminada na praia, silenciosa e solitária na biblioteca. Infelizmente, essa realidade não é percebida em todos os lares brasileiros. A cultura audiovisual está tão avançada que quase não permite a concorrência do texto, o que dificulta a conquista de novos e jovens leitores. Ainda bem que estamos presenciando uma onda de programas e projetos de incentivo à leitura, advindas tanto do poder público como da sociedade civil. É evidente que não se faz um país de leitores em alguns poucos anos, mas já vemos avanços consideráveis Brasil afora. Já foi dito, e está certo, que eventos ligados ao livro, como a IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, em andamento no Centro de Convenções, são importantes formadores de novos leitores. O contato de crianças e adolescentes com escritores e poetas mostra aos jovens que a leitura é algo encantador e apaixonante que deve fazer parte do cotidiano sociocultural de um povo.
Muitos desses jovens, apaixonados por versos e histórias, se tornam autores ainda na pouca idade. Quando os sentimentos provocados pela leitura transbordam no papel, temos os primeiros contos e poemas, ainda cambaleantes, como filhotes recém-nascidos reconhecendo terreno.
Apesar do muito a evoluir, são obras-primas enquanto exercícios de subjetividade, por vezes intensa. Jovens escritores incentivam a formação de novos leitores e escritores. Trata-se da vontade de construir universos, brincar com a língua. Quando crianças e adolescentes percebem que outros deles são capazes de produzir textos e publicá-los, eles se sentem convidados a peregrinar pelos caminhos da escrita. E nem é preciso comentar a importância social da leitura como elemento de cidadania.
Tudo não passa da vontade de ler mais. Escrever é ler também: ler mundos, pessoas e fatos. Tateando pela escrita se tem a percepção ainda maior da linguagem, em todas as possibilidades, jogos e variações. É como um cego, que vê pegando, sentindo, lendo o mundo através das mãos. Bons autores são, antes de qualquer coisa, bons leitores. A literatura como ofício é aprendida na lida trabalhosa da leitura. Mas essa não é apenas uma questão técnica de causa e consequência: existe a paixão no meio de tudo. Vou reformular a frase: bons autores são, antes de qualquer coisa, leitores apaixonados. A escrita é uma forma de viver esse sentimento de forma ainda mais intensa.
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