A Fascinação da Palavra
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Marcílio Medeiros, Recife, PE
Aos dez anos, deparei-me com a tarefa escolar de ler o volume 1 da Coleção Para Gostar de Ler, com crônicas de Drummond, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Um dos textos que recordo especialmente, intitulado O Padeiro, falava da figura matinal que levava o pão à casa das pessoas, batia à porta e gritava: não é ninguém, é o padeiro. O cronista, certa vez, indaga-o: como você teve a ideia de dizer isso... então, você não é ninguém? O interlocutor dá-lhe como resposta, sorrindo e sem mágoa, que se acostumou com aquilo, ao ouvir repetidamente a empregada dizer para a dona da casa, ao ser perguntada quem é: não é ninguém, não senhora, é o padeiro.
No ano seguinte, ganhei de aniversário O Menino do Dedo Verde, do escritor francês Maurice Druon, membro da Academia Francesa de Letras e bisneto de um brasileiro, Odorico Mendes, tradutor de Homero e Virgílio.
Contava a estória do menino Tistu, que fazia brotar flores e plantas com o toque do seu dedo e, ao ter contato com a violência do mundo, passa a utilizar seu dom especial, como forma de resistência e transformação da realidade.
Foi assim que me tornei um leitor voraz. Por essa época, descobri a Biblioteca Pública de Pernambuco, na qual havia uma seção circulante que emprestava livros a quem se cadastrasse. De posse do meu cartão de leitor – que era cinza, com uma foto na parte superior e muitos quadradinhos para marcar as datas de empréstimo e devolução – passei a pegar livros sem parar. Desse modo, li tudo que encontrei pela frente de Julio Verne e Agatha Christie.
Em seguida, vieram os cronistas: os meus velhos conhecidos do livro da escola que citei acima, Lygia Fagundes Telles, Rachel Jardim, Cecília Meireles... Transitando, com curiosidade e desejo sem fim, por aquelas prateleiras de aço, logo vieram os romances e a poesia... e depois tudo junto.
Em casa, encontrei a coleção Grandes Romances Universais, formada por vinte volumes, editado pela W. M. Jackson Inc. Editores, em 1963, que tinha sido de meu pai. Como é que aquilo tudo estava ali e eu não havia reparado? E haja A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo etc., que lia, com solenidade, em volumes de capa dura. Depois, comecei a formar minha biblioteca, com livros adquiridos na Livro 7 (Recife).
Hoje, quando sentei para registrar estas reminiscências, encontrei, ao acaso, uma notícia acerca das comemorações dos 156 anos de fundação da Biblioteca Pública de Pernambuco, iniciadas dia 05 deste mês, e as memórias tornaram-se mais doces.
(escrito em 14.08.2008)
A leitura pode realmente mudar a nossa vida. É a força da palavra mais uma vez mostrando o seu poder...
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